Culturando
Esta semana, para o ponta pé incial do CULTURANDO peço
licença para comentar sobre coleções especiais lançadas pelas editoras da Folha
de São Paulo e Globo, que se tornaram um verdadeiro manancial para os olhos e
ouvidos de colecionadores de plantão. Neste caso, coleções sobre a Música Popular
Brasileira, os 50 anos da Bossa Nova, a história do samba, clássicos do Cinema
Americano e o melhor do Cinema Europeu.
Coleção Folha reúne 20 clássicos do cinema
Vinte filmes
produzidos por Hollywood entre 1932 e 1967, representantes legítimos da força
do cinema americano em seu período mais rico, formam a Coleção Folha Clássicos
do Cinema. Quase todos os títulos da coleção - que, além do DVD, traz para cada
filme um livro com sua história e imagens, biografia do diretor e elenco e
comentários dos críticos da Folha foram sucessos de bilheteria e, ainda que boa
parte tenha sido desprezada pela crítica da época, com o tempo ganhou o status
de "clássico".
Filmes como
"Pacto Sinistro", de Alfred Hitchcock, "O Falcão Maltês",
de John Huston, "Rastros de Ódio", de John Ford, "Uma Aventura
na Martinica", de Howard Hawks, "Sinfonia em Paris", de Vincente
Minnelli, "Os Doze Condenados", de Robert Aldrich, e "Sete
Noivas para Sete Irmãos", de Stanley Donen, são exemplos da potência
criativa dos diretores que serviram a Hollywood. Mas a coleção também traz
exemplos da força do puro espetáculo ("A Volta ao Mundo em 80 Dias",
de Michael Anderson), do artesanato perfeito ("As Aventuras de Robin
Hood", de Michael Curtiz), e da rígida carpintaria dramatúrgica
("Gata em Teto de Zinco Quente", de Richard Brooks).
Coleção Folha Raízes da Música Popular
Brasileira
Composta de 25
volumes em formato de livro-CD com 64 páginas, cada exemplar conta a história
das raízes da Música Popular Brasileira, a coleção traz os sucessos de grandes
compositores e seus maiores intérpretes. Além da história deste importantíssimo
gênero musical compreendido entre 1920 e 1950, a coleção contempla a biografia
dos compositores, suas influências musicais e repertório.
A coleção
oportuniza às novas gerações conhecer um pouco sobre o genial e irreverente Noel
Rosa; o ecletismo de Lamartine Babo; a sofisticada poesia de Cartola; as
harmonias de Pixinguinha; o samba e elegância do mestre Ataulfo Alves; a dor de
cotovelo nos sambas canção de Lupicínio Rodrigues, o samba paulista de Adoniran
Barbosa; a inesquecível Dolores Duran; o samba exaltação de Ary Barroso; o rei
do baião Luiz Gonzaga; o filósofo do samba Nelson Cavaquinho, as canções
praieiras e urbanas de Dorival Caymmi; as marchinhas de Braguinha; e ainda Herivelto
Martins; Jackson do Pandeiro; Paulo Vanzolini; Silvio
Caldas; Chiquinha Gonzaga; Jacob do Bandolim; Ernesto Nazareth; Ismael
Silva; Assis Valente; Geraldo Pereira; Waldir Azevedo e Sinhô.
Apesar destes grandes nomes, a coleção peca em não incluir o sambista Wilson
Batista. Uma pena.
Coleção Cine Europeu da Folha de São Paulo
Mais uma
maravilhosa coleção quase impecável que a Folha lançou e que traz um vasto
painel do Cinema Europeu para nenhum cinéfilo botar defeito. A coleção traz 25
títulos no já habitual formato LIVRO/DVD com informações sobre os filmes,
atores, diretores e curiosidades. Gênios do cinema e obras primas integram esta
belíssima coleção, entre eles, Ingmar Bergman (Morangos silvestres); Giuseppe
Tornatore (Cinema Paradiso); Bernardo Bertolucci (Último tango em Paris);
Luchino Visconti (Rocco e seus irmãos); Françoise Truffaut (Os
incompreendidos); Jean Renoir (A Regra do jogo); Louis Malle (Adeus, meninos);
Fritz Lang (Metropolis). Filmes como A Doce Vida; Fitzcarraldo; Asas do Desejo;
O Encouraçado Potemkin; Lili Marlene; Roma, Cidade Aberta; Acossado; A Dama
Oculta completam a coleção.
Coleção Folha 50 anos da Bossa Nova
Alguns já
acompanharam e compraram as boas coleções Folha de Música Clássica e Folha
Clássicos do Jazz. Agora há outra coleção, desta vez em comemoração aos 50 anos
da Bossa Nova. Tal como as anteriores, esta também vem com um livreto em capa
dura e um CD imitando vinil (antigo LP). Uma boa oportunidade de adquirir uma
coleção que cobre importantes artistas da nossa MPB, nomes como Antonio Carlos
Jobim; Dick Farney; Vinicius de Moraes; Baden Powell; Carlos Lyra; Nara Leão;
João Donato; Johnny Alf; Lucio Alves; Miúcha (um pouco deslocada); Roberto
Menescal; Marcos Valle; Leny Andrade; Pery Ribeiro; Sylvia Telles; Maysa;
Wilson Simonal; Os Cariocas; Joyce e Milton Banana Trio.
Além de sintetizar
a obra e a personalidade do artista focalizado, cada volume da coleção traz as
letras das canções incluídas no respectivo CD. Inclui também frases do músico,
discografia selecionada, bibliografia e lista de participações em projetos
especiais e trilhas sonoras.
Se o caro leitor
estiver se perguntando como um dos “papas” da Bossa Nova, João Gilberto ficou
fora da coleção. Eis a resposta: Ele não autorizou a inclusão de suas obras por
discordar do modelo proposto. Coisas de João Gilberto. Vale ressaltar que os
textos dos 20 livretos foram escritos por um profundo conhecedor da Bossa Nova
– ninguém menos que Ruy Castro, autor de jóias como Chega de Saudade – A
história e as histórias da Bossa Nova; Uma onda que se ergueu do mar e Rio
Bossa Nova. Nota 10.
Coleção História do Samba
Lançada 1998 pela RCA/BMG/Editora
Globo e composta por 40 CDS/Fascículos ricamente ilustrados e com muita
informação, esta coleção, que teve como produtores Elifas Andreato e Arley
Pereira, é uma ótima oportunidade para saber mais sobre o gênero que se
transformou em identidade nacional e sofreu influências de diversos ritmos.
O samba como
conhecemos atualmente, tem origem afro-baiana, temperado com misturas cariocas.
Nasceu da influência de ritmos africanos, adaptados para a realidade dos
escravos brasileiros e, ao longo do tempo, sofreu inúmeras transformações de
caráter social, econômico e musical até atingir as características conhecidas
hoje. Em 1917 foi gravado em disco o primeiro samba chamado ''Pelo Telefone''.
A música, de autoria reivindicada por Donga (Ernesto dos Santos), geraria
polêmica uma vez que, naquele tempo, a composição era feita em conjunto. Essa
canção, por exemplo, foi criada numa roda de partido alto (pessoas que
partilhavam dos antigos conhecimentos do samba e designava música de alta
qualidade), do qual também participaram Mauro de Almeida e Sinhô (José Barbosa
da Silva), que se autointitulou ''o rei do samba''. O resto é história, que a
coleção História do Samba conta em mais de 600 páginas e 200 faixas com os mais
variados interpretes do gênero em todas as suas variações. Imperdível.
Olha só a ótima companhia que o caro leitor
pode ter nesta viagem através da História do Samba. Estes e muitos mais.
Adoniran Barbosa
(1910-1982) - Reverenciado como o único sambista verdadeiro de São Paulo pelos
cariocas, Adoniran Barbosa tirava de seu dia-a-dia os personagens e situações
de suas músicas. Seu jeito simples com a fala rouca e contador de histórias o
fizeram colecionar muitos amigos, entre eles Elis Regina e Clara Nunes, que
também interpretaram muitas de suas canções. ''Trem das onze'', de sua autoria,
conquistou o concurso de Carnaval do IV Centenário do Rio de Janeiro, em 1965.
Ary Barroso
(1903-1964) - Ficou famoso em todo o mundo com ''Aquarela do Brasil''', o
primeiro samba de exaltação patriótica. Órfão de pai e mãe, foi criado pela avó
materna e por uma tia. Tocava piano aos 12 anos de idade no cinema de sua
cidade, Ubá, fazendo fundo musical para filmes mudos. Formou-se em Direito no
Rio de Janeiro. Com a marcha ''Dá nela'' venceu o concurso carnavalesco de
1930.
Ataulfo Alves (1909-1969)
- ''Ai, que saudades da Amélia'', em parceria com Mário Lago, é uma de suas
mais célebres músicas. Nascido em Miraí, Minas Gerais, mudou-se para o Rio de
Janeiro aos 18 anos. Foi diretor de harmonia do ''Fale Quem Quiser'', bloco
organizado no bairro Rio Comprido. Carmen Miranda gravou um de seus sambas
chamado ''Tempo perdido''.
Cartola (1908-1980)
- Marcado por sua sensibilidade inata e sua poesia intuitiva, que o tornaram um
dos principais artistas populares do Brasil. Aprendeu a tocar cavaquinho com o
pai. Morador do morro da Mangueira, foi o responsável por escolher as cores
verde e rosa da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, além de compor o
samba-enredo ''Chega de demanda'' para o primeiro desfile da escola.
Chiquinha Gonzaga
(1847-1935) - A compositora foi responsável por aproximar a música erudita da
popular, uma vez que tinha uma sólida formação de pianista e regente. Chiquinha
foi, também, uma das primeiras a introduzir o violão nos salões cariocas.
Começou a carreira como compositora de polcas e compôs a primeira marcha
carnavalesca brasileira ''Abre alas!''.
Lamartine Babo
(1904-1963) - O estilo único de Lamartine Babo era sua interpretação que, por
meio de inflexões, destaca o humor e o lirismo de suas canções. Sua carreira no
rádio foi iniciada em 1929, na Rádio Educadora, onde cantava e contava piadas.
Nos anos 30, compôs marchinhas e sambas para o carnaval como ''Teu cabelo não
nega'' (1932). Em 1942, criou o programa de rádio Trem da Alegria, no qual
lançou os hinos que compôs para todos os times cariocas de futebol.
Noel Rosa
(1910-1937) - Suas melodias mostram um verdadeiro retrato da vida carioca,
através do lirismo e do sarcasmo. Tentou estudar Medicina, mas optou pela
boemia do bairro de Vila Isabel, reduto do samba urbano cultivado pela classe
média. Em 1932, iniciou suas atuações na emissora Rádio Philips. Com mais de
200 composições, Noel tem clássicos como ''Com que roupa?'' (1930) e "Até
amanhã" (1932).
Pixinguinha
(1898-1973) - O apelido Pixinguinha vem da mistura de Pizindim (menino bom) num
dialeto africano, e Bexiguinha, apelidos infantis. É o autor do samba-choro
''Carinhoso'', que recebeu letra de João de Barro e fez sucesso na voz de
Orlando Silva.